Hamas aceita proposta de Trump, mas impõe condições; população teme que interesses do movimento prevaleçam
- Redação
- 5 de out.
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Atualizado: há 1 dia

Faixa de Gaza — O Hamas divulgou nesta sexta-feira (3) uma resposta formal ao plano de paz apresentado pelo presidente dos EUA, Donald Trump, indicando que aceita liberar todos os reféns (vivos e mortos) conforme a proposta, mas condiciona a implementação a negociações posteriores com participação ampla das facções palestinas e com base em consensos políticos. Ao mesmo tempo, moradores de Gaza manifestam receio de que o grupo priorize seus próprios interesses em detrimento da população local.
Proposta aceita — com ressalvas
Num comunicado enviado a mediadores — especialmente do Catar — o Hamas afirmou que, após consultas aprofundadas com suas lideranças, facções palestinas e atores externos, decidiu responder ao plano de Trump adotando parte dos termos propostos. Entre os pontos aceitos, destaca-se a liberação de todos os prisioneiros da ocupação, sejam vivos ou restos mortais, seguindo a fórmula de troca apresentada pelo plano americano.
O movimento também declarou estar disposto a negociar os detalhes do acordo por meio de mediadores e reafirmou sua aprovação de transferir a administração da Faixa de Gaza para um órgão de tecnocratas palestinos independentes, baseado em consenso nacional e com apoio árabe e islâmico.
Entretanto, o Hamas deixou claro que outros pontos mais sensíveis — como os direitos futuros do povo palestino e o formato definitivo de governo em Gaza — devem ser objeto de debates subsequentes dentro de um “quadro nacional palestino abrangente”, no qual ele pretende participar com “total responsabilidade”.
Pressão americana e prazos definidos por Trump
O plano de paz de Trump, divulgado em 29 de setembro, incluiu 20 pontos que propõem cessar-fogo permanente, retirada gradual das tropas israelenses de Gaza, libertação de prisioneiros palestinos, controle internacional temporário do enclave e a desmilitarização do Hamas, entre outras medidas.
Trump estipulou um ultimato: o Hamas teria até domingo, às 18h (horário de Washington), para aceitar o acordo. Caso contrário, o presidente prometeu “um inferno como nunca visto” contra o grupo.
Após a resposta do Hamas, Trump manifestou gratidão aos países árabes que intermediaram o processo, como Catar, Egito, Turquia e Arábia Saudita, e defendeu que Israel interrompa os bombardeios imediatamente para viabilizar a troca de prisioneiros.
Medo e críticas entre os palestinos em Gaza
Enquanto o Hamas tenta demonstrar disposição negociadora, moradores de Gaza expressam inquietação: muitos temem que o movimento acabe privilegiando seus interesses — em termos de poder político, territorial ou simbólico — em detrimento das necessidades imediatas da população.
Segundo reportagens referenciadas no O Globo e no UOL, há receio de que Gaza “morra por nada” — ou seja, que a população sofra perdas enormes sem garantia de ganhos concretos — caso o Hamas faça concessões unilaterais ou atue sem transparência nas negociações.
Além disso, analistas apontam que o plano de Trump é tratado dentro do mundo árabe e ocidental como uma imposição unilateral: o grupo palestino ficaria proibido de participar do governo de Gaza, e a proposta já recebeu apoio de Israel e de vários países árabes, o que reforça a sensação de que as decisões foram tomadas à margem dos palestinos.
Desafios à frente
1. Implementação e fiscalização
Mesmo com aceitação parcial, resta definir quem e como fiscalizará a troca de reféns, o controle de fronteiras, o desarmamento e a transição de poder.
2. Desarmamento do Hamas
O plano exige que o grupo se desarme como condição para ceder soberania. O Hamas, até o momento, não fez essa concessão explícita.
3. Coesão palestina
Garantir que todas as facções — inclusive aquelas contrárias ao Hamas — participem das negociações será crucial para a legitimidade do acordo.
4. Pressão militar e política externa
Trump advertiu que, se o Hamas recusar o plano, tensões militares serão intensificadas. Países mediadores continuarão a desempenhar papel central.
5. Reconstrução e retorno à vida civil
Gaza está devastada — infraestrutura, serviços públicos e condições de vida foram profundamente afetados pela guerra. A população espera reconstrução rápida e segurança mínima para retornar à rotina.
A resposta do Hamas representa um momento de inflexão na crise em Gaza: o movimento aceita parte do plano de paz, mas exige que cláusulas essenciais sejam renegociadas. Resta saber se haverá flexibilidade suficiente de todas as partes para transformar intenção em realidade — e, sobretudo, se a população de Gaza sairá fortalecida ou sacrificada nesse processo.
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